Referencial. Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, é aquilo que é utilizado como referência. Logo nas primeiras aulas da oitava série do Ensino Fundamental (hoje conhecido como nono ano), os estudantes se deparam com essa palavra. "Tudo depende do referencial", repete exaustivamente o professor, enquanto anda, de um lado pro outro na sala, contando como a maçã que caiu na cabeça de Newton o motivou a desenvolver a Lei da Gravitação Universal. "Esses fatos anedóticos tornam a aula menos dura, menos maçante. Sou um professor moderno", pensa ele. Será o suficiente? Suspeito que não.
Ao longo da minha vida escolar, a justificativa que mais ouvi de colegas sobre seu baixo desempenho em certas disciplinas era a de que "o professor não instigava". Aliás, minto: ainda ouço isso pra caramba nos corredores do Pavilhão de Aulas Thales de Azevedo, no meu amado campus de São Lázaro. Pensei em usar o termo "desculpa", mas voltei atrás: desculpa daria a ideia de que não acredito no que os meus colegas falam, que penso que inventam isso para justificar sua preguiça e/ou falta de disciplina. O caso é que eu acredito e concordo plenamente: a maior parte dos professores não se importa em instigar o estudante a estudar.
Estava conversando essa semana com uns amigos sobre o ódio que a maior parte da intelectualidade nutre contra o marketing, a publicidade e seus operadores. "Eles embalam lixo e vendem como luxo", me disseram certa feita; "convencem as pessoas a comprar coisas que elas não precisam e que, por sinal, nem os próprios publicitários compram", me disse uma vez uma amiga que trabalhou algum tempo em uma agência de publicidade. Boa parte dessas críticas vem do pessoal que estuda e trabalha com as tais Ciências Humanas, aquele povo bacana que anda por aí, em sua maioria, com camisas vermelhas e cópias do Manifesto do Partido Comunista debaixo do braço. O mesmo povo que esperneia pelos arredores de São Lázaro, apontando a ineficiência dos professores em instigar os estudantes. Não percebem que enquanto criticam e desprezam os estudos sobre o marketing, estão, na verdade, apenas trilhando o caminho para serem a próxima geração de professores chatos e quadrados; estão cumprindo o primeiro passo do Manual Prático de Como Não Instigar os Alunos a Estudar.
Por mais inovadora e interativa que seja a sua metodologia de ensino, por mais que você saiba a Pedagogia da Autonomia de cor, quando você está em uma sala de aula, na frente de estudantes, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, eles supõem que você conhece mais daquela disciplina, daquele assunto sobre o qual você se propõe a lecionar, do que eles. Suposição lógica e válida (pelo menos teoricamente). Você é a referência daqueles indivíduos.
O que parece, no entanto, é que a maior parte dos professores ignora esse fato. Chegam nas salas de aula com suas mochilinhas, seus caderninhos e, claro, seu pen drive, aonde está contida toda a aula, em uma apresentação do Powerpoint. Falam, esperam questionamentos que raramente chegam, levantam debates que quase nunca são frutíferos e saem dizendo que o sistema é bruto e imutável. Esquecem de vender seu peixe, de mostrar para aqueles estudantes que estudar é bacana e que tudo que está contido naqueles livros faz parte da vida deles. Esquecem de serem gentis, de serem sensíveis às diferentes realidades de seus educandos e de serem, acima de tudo, um exemplo. Eu resolvi estudar História para ser igual ao meu professor da quinta série, que, além de saber muito de História, era engraçado pra caramba. A postura dele me passava a mensagem que era possível sim ser culto, jovem e ainda engraçado, divertido, contradizendo aquele velho estereótipo de "jovem com alma de velho porquê estuda muito". Ele construiu uma imagem. É o que chamam de Marketing Pessoal.
Não digo que não hajam sérios problemas estruturais no sistema(?) educacional brasileiro. Mas acho que para que tais problemas sejam realmente sanados, é necessário, primeiro, que os professores se compreendam enquanto educadores, levando em consideração que, apesar de alguns não gostarem de admitir, a educação é sim um sacerdócio. É bem como ouvi essa semana: é mais eficiente fornecer aos cidadãos armas para criticar as informações que eles recebem do que diminuir as informações que eles recebem; a criticidade vai permanecer com eles para sempre, enquanto não se sabe até quando o silêncio informacional pode durar.
Ao longo da minha vida escolar, a justificativa que mais ouvi de colegas sobre seu baixo desempenho em certas disciplinas era a de que "o professor não instigava". Aliás, minto: ainda ouço isso pra caramba nos corredores do Pavilhão de Aulas Thales de Azevedo, no meu amado campus de São Lázaro. Pensei em usar o termo "desculpa", mas voltei atrás: desculpa daria a ideia de que não acredito no que os meus colegas falam, que penso que inventam isso para justificar sua preguiça e/ou falta de disciplina. O caso é que eu acredito e concordo plenamente: a maior parte dos professores não se importa em instigar o estudante a estudar.
Estava conversando essa semana com uns amigos sobre o ódio que a maior parte da intelectualidade nutre contra o marketing, a publicidade e seus operadores. "Eles embalam lixo e vendem como luxo", me disseram certa feita; "convencem as pessoas a comprar coisas que elas não precisam e que, por sinal, nem os próprios publicitários compram", me disse uma vez uma amiga que trabalhou algum tempo em uma agência de publicidade. Boa parte dessas críticas vem do pessoal que estuda e trabalha com as tais Ciências Humanas, aquele povo bacana que anda por aí, em sua maioria, com camisas vermelhas e cópias do Manifesto do Partido Comunista debaixo do braço. O mesmo povo que esperneia pelos arredores de São Lázaro, apontando a ineficiência dos professores em instigar os estudantes. Não percebem que enquanto criticam e desprezam os estudos sobre o marketing, estão, na verdade, apenas trilhando o caminho para serem a próxima geração de professores chatos e quadrados; estão cumprindo o primeiro passo do Manual Prático de Como Não Instigar os Alunos a Estudar.
Por mais inovadora e interativa que seja a sua metodologia de ensino, por mais que você saiba a Pedagogia da Autonomia de cor, quando você está em uma sala de aula, na frente de estudantes, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, eles supõem que você conhece mais daquela disciplina, daquele assunto sobre o qual você se propõe a lecionar, do que eles. Suposição lógica e válida (pelo menos teoricamente). Você é a referência daqueles indivíduos.
O que parece, no entanto, é que a maior parte dos professores ignora esse fato. Chegam nas salas de aula com suas mochilinhas, seus caderninhos e, claro, seu pen drive, aonde está contida toda a aula, em uma apresentação do Powerpoint. Falam, esperam questionamentos que raramente chegam, levantam debates que quase nunca são frutíferos e saem dizendo que o sistema é bruto e imutável. Esquecem de vender seu peixe, de mostrar para aqueles estudantes que estudar é bacana e que tudo que está contido naqueles livros faz parte da vida deles. Esquecem de serem gentis, de serem sensíveis às diferentes realidades de seus educandos e de serem, acima de tudo, um exemplo. Eu resolvi estudar História para ser igual ao meu professor da quinta série, que, além de saber muito de História, era engraçado pra caramba. A postura dele me passava a mensagem que era possível sim ser culto, jovem e ainda engraçado, divertido, contradizendo aquele velho estereótipo de "jovem com alma de velho porquê estuda muito". Ele construiu uma imagem. É o que chamam de Marketing Pessoal.
Não digo que não hajam sérios problemas estruturais no sistema(?) educacional brasileiro. Mas acho que para que tais problemas sejam realmente sanados, é necessário, primeiro, que os professores se compreendam enquanto educadores, levando em consideração que, apesar de alguns não gostarem de admitir, a educação é sim um sacerdócio. É bem como ouvi essa semana: é mais eficiente fornecer aos cidadãos armas para criticar as informações que eles recebem do que diminuir as informações que eles recebem; a criticidade vai permanecer com eles para sempre, enquanto não se sabe até quando o silêncio informacional pode durar.
